segunda-feira, 29 de março de 2010

Maria Das Mercês

Maria das Mercês
Padece em vida
E não vê saída
Pra sua solidão
Se sente presa
Se sente morta
Por traz da porta
É mais que prisioneira.

Maria das Mercês
So canta as dores
Principalmente
As dores do amor
Não abre os peitos
Não lambe os beiços
Nunca se solta
E sempre se domina.

Maria das Mercês
Tem somhos loucos

E se consola
Com muitas orações
Mil penitências
Mil fantasias
Olhos bem baixos
E o coração vazio.

Maria das Mercês
Chora baixinho
Se fecha inteira
E se guarda virgem
Pra quem, não sabe
Por que, não pensa
E a vida...a vida segue
Sem Maria das Mercês.

José Henrique Fialho

Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor


Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo a frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira

Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois,
Sinais de bem, desejos de cais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor, dos temporais,
de céu azul das flores de abril
Pensar além do bem do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu

O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele, tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer!


Pensei no tempo, e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar
Lá fora o dia ja clareou
Mas se você quiser transformar
O ribeirão em braço de mar


 Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você

O mundo lá sempre a rodar
Em cima dele, tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer!


Lô Borges / Márcio Borges

terça-feira, 23 de março de 2010

Planeta Água

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...

Águas escuras dos rios
Que levam
A fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...

Águas que caem das pedras
No véu das cascatas
Ronco de trovão
E depois dormem tranqüilas
No leito dos lagos
No leito dos lagos...

Água dos igarapés
Onde Iara, a mãe d'água
É misteriosa canção
Água que o sol evapora
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão...

Gotas de água da chuva
Alegre arco-íris
Sobre a plantação
Gotas de água da chuva
Tão tristes, são lágrimas
Na inundação...

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...

Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...(2x)

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...

Terra! Planeta Água

Guilherme Arantes

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um Poema de Outono

Mergulham no cinza os dias,
O mundo está descontente,
O sol se esconde de repente,
Foi-se o verão de alegrias.
 
Lá fora, o frio vento sibila.
A noite tem o véu da neblina
Amanhece e começa a rotina
Da gente que não vacila
 
Diante de intempéries loucas.
Encasacada vai cumprir a sina,
Debaixo de chuva úmida e fina
Das obrigações que não são poucas.
 
Bem-te-vi que a cantar vivia,
Banhando-se na água da nascente,
Esconde-se da chuva intermitente,
Lágrimas que o céu escondia.
 
Despem-se, lentas, as árvores belas,
De suas vestimentas mais antigas,
Espalham suas folhas amigas
Que se vão ao sabor das procelas.
 
Quem se abrigava à sombra delas
Para aliviar o calor, as fadigas,
Vê seus braços nus sem as cantigas
Dos bem-te-vis tagarelas.
 
Mas, o outono tem seu encanto,
É tempo de sopa quente, de carinho,
É estação que encurta o caminho
Da volta ao lar que se ama tanto.
 
Maria Hilda Alão
 

Outono

Os nossos dedos esfriaram
E depressa nos cercou de cores
Com que se transvestiu na nudez
O Outono! Mais uma vez!

 As folhas despedidas caíram
Tapando as raízes às flores
E transmutou com tanta beleza
Fazendo descansar a natureza
O Outono! Mais uma vez!

 Apanhei no chão uma clareira
E com vinho maduro das luas
Acendi nos teus seios a fogueira.
Chegando minhas mãos às tuas
No Outono! Mais esta vez!




E não nos quedámos na espera…
Misturámos os aromas no mosto,
Ao teu gosto
Ao meu gosto
No teu ventre Primavera

 E lá foi o Outono outra vez...
 
Rogério Martins Simões

Pelos Ares


Não lhe peço nada
mas se acaso você perguntar
por você não há o que eu não faça

Guardo inteira em mim
a casa que mandei
um dia
pelos ares
e a reconstruo em todos os detalhes
intactos e implacáveis

Eis aqui
bicicleta, planta, céu,
estante cama e eu
logo estará
tudo no seu lugar

Eis aqui
chocolate, gato, chão,
espelho, luz, calção
no seu lugar
pra ver você chegar

Antonio Cicero e Adriana Calcanhotto

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Cecília Meireles

José


E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais. 



José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 16 de março de 2010

Família é Prato Difícil de Preparar

 É na cozinha que eu desembesto e solto
todos os bichos. É na cozinha que eu 
viajo sem passaporte, sem bilhete, sem
revista em aeroportos. As autoridades
querem minhas digitais? Elas estão na 
massa do pão. Querem minha foto?
Tenho várias, de frente e de lado com
meus pais e irmãos e com os que vieram
depois. Retratos falados - em voz alta,
a família toda ao mesmo tempo.
 Destrambelhada família. Sagrada família...
Preciso me concentrar. É essencial. Por quê?
Ora, que pergunta! Família é prato difícil de
preparar. São muitos  ingredientes. Reunir
todos é problema - principalmente no Natal
e no Ano-Novo. Pouco importa a qualidade
da panela, fazer uma família exige coragem,
devoção e paciência. Não é pra qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível.
Às vezes dá até vontade de desistir.
Preferimos o desconforto do estômago vazio.
Vêm a preguiça, a conhecida falta de imaginação
sobre o que se vai comer e aquele fastio.
Mas a vida - azeitona verde no palito - sempre
arruma um jeito de nos ensinar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de
cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, 
a família está servida. Fulana sai a mais inteligente
de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão 
e comunicativo, unanimidade. Sicrano - quem diria?
- solou endureceu, murchou antes do tempo. Este,
o mais gordo e generoso, farto, abundante. Aquele 
o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais
apaixonada. A outra, a mais consistente.
E você? É, você mesmo, que me lê os pensamentos
e veio me fazer companhia. Como saiu no álbum de
retratos? O mais prático e objetivo? A mais sentimental?
A mais prestativa? O que nunca quis nada com o trabalho?
Seja quem for, não fique aí reclamando do gênero ou do
grau comparativo. Reúna essas tantas afinidades e 
antipatias que fazem parte da sua vida. Não há pressa.
Eu espero. Já estão aí? Todas? Ótimo. Agora, ponha
o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome
alguns cuidados. Logo, logo, você também está cheirando
alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é
prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria,
de raiva ou tristeza.
Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor
do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, 
essas especiarias - que quase sempre vêm da África
e do Orientee nos parecem estranhas ao paladar - 
tornam a família muito mais colorida, interessante
e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas.
Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto,
é um verdadeiro desastre. Família é prato
extremamente sensível.
Tudo tem de ser muito bem pesado, muito  bem
medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser
profissional. Principalmente na hora que se decide
meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte.
Uma grande amiga minha desandou a receita de toda
a família, só porque meteu a colher na hora erada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da 
família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Não existe 
"Família à Oswaldo Aranha", "Família à Rossini", 
"Família à Belle Meunière ou "Família ao Molho Pardo" - 
em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria.
Família é afinidade, é "à Moda da Casa". E cada casa
gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras,
apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto
de nada - seriam assim um tipo de "Família Diet", que 
você suporta só para manter a linha. Seja como for, família
é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo.
Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Há famílias, por exemplo, que levam muito tempo para serem
preparadas. Fica aquela receita cheia de recomendações de se
fazer assim ou assado - chatice! Outras, ao contrário, se fazem
de repente, de uma hora para outra, por atração física incontrolável
- quase sempre de noite. Você acorda de manhã, feliz da vida, e
quando vai ver já está com a família feita. Por isso é bom saber
a hora certa de abaixar o fogo. Já vi famílias abortadas por causa
de gogo alto.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa.
A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo
o que sabe no dia-a-dia. A gente cata um registro ali, de alguém
que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel.
Muita coisa se perde na lembrança. Principalmente, na cabeça
de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano
cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja
o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer.
Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o
pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio
ou no barro. Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando acaba,
nunca mais se repete.


( Do livro: O Arroz de Palma, Francisco Azevedo )

segunda-feira, 15 de março de 2010

A Lista

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas mentiras você condenava
Quantas você teve que cometer
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você
Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você.


Oswaldo Montenegro

Nem Um Dia

Um dia frio
Um bom lugar pra ler um livro
E o pensamento lá em você,
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você,
E tudo me divide

Longe da felicidade
E todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo,
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza
Dos sheiks árabes
Não te esquecerei um dia,
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você.

E tudo nascerá mais belo,
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris.


Djavan 

Paz



 Aqui se planta, aqui se colhe,
mas para a flor nascer é preciso que se molhe,
é preciso que se regue pra nascer a flor da paz,
é preciso que se entregue com amor e muito mais. 
É preciso muita coisa e que muita coisa mude, 
muita força de vontade e atitude, pra poder colher a paz, 
tem que correr atrás e tem que ser ligeiro! 
Pra poder colher a fruta é preciso ir a luta, e tem que ser guerreiro!
(PELA PAZ A GENTE CANTA A GENTE BERRA, 

PELA PAZ EU FAÇO MAIS EU FAÇO GUERRA)
Eu vou a luta, eu vou armado de coragem e consciência, 

amor, esperança, a injustiça é a pior das violências, eu quero paz, eu quero mudança.
É, dignidade pra todo o cidadão, mais respeito,
menos discriminação, desigualdade, não, impunidade, não, 
não me acostumo com essa acomodação. 
Eu me incomodo e não consigo ser assim, porque eu preciso da paz, 
mas a paz também precisa de mim, a paz precisa de nós,
a paz precisa de nós, da nossa luta, da nossa voz. 

Paz, aonde tu estas? Aonde você vive? Aonde você jaz? É... 
Onde você mora? Onde te encontramos? Onde você chora? 
Onde nós estamos? Onde te enterramos? Que lar você habita? 
Onde nó erramos? Volta, ressuscita! Será que a paz morreu? 
Será que a paz tá morta? Será que não ouvimos quando a paz bateu na porta? 
A paz que não tem vaga na porta da escola, a paz
vendendo bala, a paz pedindo esmola, a paz cheirando cola, 

virando a adolescência, atrás de uma pistola, virando violência. 
Será que a paz existe? Será que a paz é triste? 
Será que a paz se cansa da miséria e desiste? 
A paz que não tem vez, a paz que não trabalha, 
a paz fazendo bico, ganhando uma migalha, no fio da navalha, 
dormindo no jornal, atrás de uma metralha, virando marginal.
(PELA PAZ A GENTE CANTA A GENTE BERRA, PELA PAZ EU FAÇO MAIS EU FAÇO GUERRA)
Será que a paz ataca, será que a paz tá fraca? 

Será que a paz quer mais do que viver numa barraca? 
A paz que não tem terra, a paz que não tem nada, 
a paz que só se ferra, a paz desesperada, 
a paz que é massacrada lutando por justiça, atrás de uma enxada, virando terrorista. 
Será que a paz assusta? Será que a paz é justa? 
Será que a paz tem preço? Quanto é que o preço custa! 
A paz que não tem raça, nem boa aparência, 
a paz não vem de graça, a paz é conseqüência, 
a paz, que a gente faça, sem peso e sem medida, 
a paz dessa fumaça, a paz virando vida. 
A paz que não tem prazo, a paz que pede urgência, 
não vai ser por acaso, 
a paz é conseqüência, não é coincidência nem coisa parecida, 
a paz a gente faz feito um prato de comida.
(PELA PAZ A GENTE CANTA A GENTE BERRA, PELA PAZ EU FAÇO MAIS EU FAÇO GUERRA)

Eu vou à luta eu vou armado de coragem e consciência, 
amor e esperança, a injustiça é a pior das violências, 
eu quero paz, eu quero mudança. 
A violência não é só dos traficantes, a covardia não é só a dos policiais, 
a violência também é dos governantes, dos homens importantes, 
não sei quem mata mais! 

Como é que a gente faz, 
pra medir a violência na emergência dos hospitais, 
a dor e o sofrimento, os filhos que não nascem,
os pais que morrem sem atendimento, 

qual é a gravidade de um roubo milionário praticado por alguma autoridade, 
que tem imunidade e compra a liberdade, 
enquanto o cidadão honesto vive atrás das grades, 
com medo de um assalto à mão armada, 
pagando imposto alto e não recebendo nada, 
qual é o grau do perigo, 
da falta de escola e de emprego de prisão e de abrigo, 
qual é o pior inimigo? 

Os pais da corrupção ou os filhos do mendigo? 
 Quem é o grande culpado?
O ladrão que tem cem anos de perdão ou você que vota errado?
(PELA PAZ A GENTE CANTA A GENTE BERRA, PELA PAZ EU FAÇO MAIS EU FAÇO GUERRA)
Vou lutando pela paz... 


Gabriel Pensador

Paisagem na Janela

Da janela lateral
Do quarto de dormir
Vejo uma igreja
Um sinal de glória
Vejo um muro branco
E um vôo, pássaro
Vejo uma grade
Um velho sinal...

Mensageiro natural
De coisas naturais
Quando eu falava
Dessas cores mórbidas
Quando eu falava
Desses homens sórdidos
Quando eu falava
Deste temporal
Você não escutou...

Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Eu apenas era ...

Cavaleiro marginal
Lavado em ribeirão
Cavaleiro negro
Que viveu mistérios
Cavaleiro e senhor
De casa e árvore
Sem querer descanso
Nem dominical...

Cavaleiro marginal
Banhado em ribeirão
Conheci as torres
E os cemitérios
Conheci os homens
E os seus velórios
Quando olhava
Da janela lateral
Do quarto de dormir...

Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Você não quer acreditar
Mas isso é tão normal
Um cavaleiro marginal
Banhado em ribeirão
Você não quer acreditar...


Beto Guedes