quinta-feira, 22 de março de 2012

Água

Água!
Tu não tens gosto, nem cor nem aroma.
Não podemos definir-te,
Saboreamos-te sem te conhecermos.
Tu não és necessária à vida: tu és a própria vida!
Tu penetra-nos dum prazer
Que não se explica pelos sentidos.
Contigo reentram em nós os poderes
Aos quais tínhamos renunciado…
Por tua graça,
Abrem –se em nós todas as fontes corrompidas do nosso coração
Tu és a maior riqueza que existe no mundo,
E és também a mais delicada,
Tu, tão pura no ventre da terra.
Pode-se morrer a dois passos dum lago de água salgada.
Pode-se morrer de dois litros de orvalho que alguns sais retêm em suspensão.
Tu não aceitas mistura alguma,
Tu não suportas alteração alguma,
Tu és uma desconfiada divindade…
Mas tu espalhas em nós
Uma felicidade infinitamente simples.


Extraído do livro Terra dos Homens, de Antoine de Saint-Exupéry
  

terça-feira, 20 de março de 2012

Palavras que Machucam


Dói-me o peito em carne viva.
O que poderia ser mais doído
Do que alguém querido te ferir,
com palavras que entram pelo ouvido,
penetram no cérebro, na alma,
vão consumindo ossos, músculos, nervos,
carne e pele, como um câncer exógeno,
um ácido que corrói alegria e simpatia.
Imagino um pássaro que pousou em sua janela,
cantou puro e foi alvejado e morto.
Uma borboleta que pousou em sua mão,
bela e confiante, e por elas foi esmagada.
Por onde andava teu coração nesta hora?
Imaginou-se seguro para machucar,
atingir a auto-estima e a felicidade?
Por que achou que seria bálsamo para as feridas
existentes em seu vituperado interior?
Conhece a mágoa mas não a sensibilidade.
E depois tenta convencer que nada fizeste...
Se não posso curar-te com meu carinho
Deixe o pássaro ir.
Deixe a borboleta voar.
Deixe Deus entrar.
Pra você sair dessa carapaça desumana...


Elisa Maria Gasparini

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher

Pobre daquele que não reconhece o seu valor
Infeliz aquele que nunca sucumbiu a seu encanto,
Pois emerge dessa criatura, repleta da luz
que ofusca a visão de qualquer mortal ,
um ser místico, ora delicado ora felino e fatal,
nascendo no olhar ingênuo de uma menina
Conscientemente ou não, pelo destino preparada
para competir com igualdade por seu lugar
no mundo inóspito, inescrupuloso e machista
regido pela ganância mercantilista e egoísta.
Também para ser mãe e lutar por sua prole feito heroína,
não importa sua nacionalidade, religião, raça ou cor ,
profissão, posição política tampouco social,
o que vale é o tato, a intuição, o carisma, o pé no chão
a firmeza de que dispõe, constante na busca do seu ideal
sem jamais perder a angelical delicadeza maternal
Sem esses adjetivos, próprios da alma feminina,
nossa existência decerto seria tristemente banal
Somente um dia em tua homenagem é muito pouco;
todos os elogios dos poetas nunca poderão expressar
que a mulher é portal da luz da vida, do verdadeiro amar
Então, continue nos ofuscando com seu brilho essencial,
e que me desculpe o grande mestre Vinícius de Moraes
pois, independentemente de ser bela, a mulher é fundamental.
Valter Montani