Tem todo o jeito de quem anda por andar, sinceramente sem querer chegar a lugar nenhum.
O texto da mulher dá pra ver que demorou muito tempo pra ficar pronto, e ainda não está.
Dá pra ver que uma mulher escreve pra outra — pra outra completar.
O texto da mulher tem um silêncio gostoso de se ouvir e pronto para ser quebrado.
Tem natureza própria: vento que sopra a cara e provoca os cabelos; lua que, nua, se banha no mar — festa nos navios negreiros...!
O texto da mulher dá orgulho: a gente fica lendo, boba, descobrindo um monte de coisas que já sabia e que só precisava lembrar.
O texto da mulher fecha os olhos quando faz carinho, como se fosse ele o acarinhado... todo texto de mulher tem um filho no presente e um amante no passado.
O texto da mulher faz arte: colore o que passa em branco na vida e pára o que passa rápido demais — põe o pé na frente e zás! Segue soberba, sabe que não adianta olhar — não para trás.
O texto da mulher parece sempre que foi a gente que escreveu —- será uma concatenação de saudades e esperanças comuns, ou alguém me esmiuçou sem eu deixar?
O texto da mulher treme, grita, chora e comemora em uma só língua; e faz a gente pensar que somos, todas, fragmentos de uma mesma criatura com dois lindos seios e um santo ventre, que caiu, quebrou e nos espalhou um dia.
O texto da mulher vale a pena a qualquer hora: de manhã, à tarde, de noite...
Esteja a solidão aqui, ou batendo na porta, do lado de fora.
Gabriela Mello Barbosa
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