sexta-feira, 11 de maio de 2018

Atração Mortal

Ela me atraiu para o domínio dos seus braços
E eu cheio de pudores, resisti; pois não sabia
Sua boca me buscava como a noite busca o dia
Sem querer se acabar, mas ainda que tardia
E na escuridão da noite, seu olhar se fez dia
Nesses laços dos seus braços, meu amor ainda dormia
Quando um beijo a minha boca ainda nem sabia
Desse amor adormecido, na memória ele morria
Tanto tempo desejando, pensei que nunca teria
E no aperto dos seus braços o meu corpo tremia
A cama revirada, no compasso da gelosia
E agora que eu sou seu nesse turbilhão girando
Era um sonho, eu já sabia
Mas, pensava que era verdadeiro
Que jamais eu morreria
De amor por uma sombra
Uma lembrança
Um dia...


Nélio Azevedo



domingo, 8 de março de 2015

Mulher

Eu sou a mãe da praça de maio
Sou alma dilacerada
Sou Zuzu Angel, sou Sharon Tate
O espectro da mulher assassinada
Em nome do amor
Sou a mulher abandonada
Pelo homem que inventou
Outra mais menina
Sou Cecília, Adélia, Cora Coralina
Sou Leila e Angela Diniz
Eu sou Elis

Eu sou assim
Sou o grito que reclama a paz
Eu sou a chama da transformação
Sorriso meu, meus ais
Grande emoção
Que privilégio poder trazer
No ventre a luz capaz de eternizar
Em nós sonho de criança
Tua herança

Eu sou a moça violentada
Sou Mônica, sou a Cláudia
Eu sou Marilyn, Aída sou
A dona de casa enjaulada
Sem poder sair

Sou Janis Joplin drogada
Eu sou Rita Lee
Sou a mulher da rua
Sou a que posa na revista nua
Sou Simone de Beauvoir
Eu sou Dadá

Eu sou assim...


Ainda sou a operária
Doméstica, humilhada
Eu sou a fiel e safada
Aquela que vê a novela
A que disse não
Sou a que sonha com artista
De televisão
A que faz a feira
Sou o feitiço, sou a feiticeira
Sou a que cedeu ao patrão
Sou a solidão

Eu sou assim


Geraldo Azevedo




quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Dor Que Dói Mais

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.
Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido às aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.
Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.
 Crônicas De Martha Medeiros

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Abraço

Abraço é cuidado mudo. 
É a forma que encontramos de dizer:
tudo vai ficar bem, sem palavras. 
É proteção para pesadelos infantis, 
porta aberta para corações fechados. 
É revelar sentimentos
sem fazer estardalhaço.
É encontrar o caminho sem pedir informação.
Aconchego, morada,
calor que vem do tum tum tum do coração
e acalenta a alma.
Eu sou grude, todo mundo sabe
e aqueles que meus braços não alcançam,
Eu abraço com palavras.


Renata Fagundes

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Mas Ela Vai Voltar (Todos os Defeitos de Uma Mulher Perfeita)

Minha mente
Nem sempre tão lúcida
É fértil e me deu a voz
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
Fez ela se afastar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar
Ela não é
Do tipo de mulher
Que se entrega na primeira
Mas melhora na segunda
E o paraíso é na terceira
Ela tem força
Ela tem sensibilidade
Ela é guerreira
Ela é uma deusa
Ela é mulher de verdade
Ela é daquelas
Que tu gosta na primeira
Se apaixona na segunda
E perde a linha na terceira
Ela é discreta
E cultua bons livros
E ama os animais
Tá ligado, eu sou o bicho
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
É fértil e me deu a voz
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
Fez ela se afastar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar
Deixa eu te levar
Pra ver o mundo, baby
Deixa eu te mostrar
O melhor que eu posso ser
Deixa eu te levar
Pra ver o mundo, baby
Deixa eu te mostrar
O melhor que eu posso ser
Ela não é
Do tipo de mulher
Que se entrega na primeira
Mas melhora na segunda
E o paraíso é na terceira
Ela tem força
Ela tem sensibilidade
Ela é guerreira
Ela é uma deusa
Ela é mulher de verdade
Ela é daquelas
Que tu gosta na primeira
Se apaixona na segunda
E perde a linha na terceira
Ela é discreta
E cultua bons livros
E ama os animais
Tá ligado, eu sou o bicho
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
É fértil e me deu a voz
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
Fez ela se afastar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar
Fazer da vida
O que melhor possa ser
Traçar um rumo novo
Em direção ao sol
Me sinto muito bem
Quando vejo o pôr-do-sol
Só pra fazer nascer a lua
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
É fértil e me deu a voz
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
Fez ela se afastar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar

Charlie Brown Jr.


sábado, 8 de março de 2014

MULHERES IRRITADAS



"Adoro mulheres irritadas
Bravas
Explodindo de raiva

Poucas coisas deixam uma mulher tão sexy,
Tão charmosa,
E tão convidativa ao prazer
Quanto aquele olhar possesso,
Aquele ar de que vai quebrar tudo
E mandar o mundo pelos ares
Pelo simples fato de que algo não saiu ao seu gosto
Ou a contento seu

Mulheres assim são mais donas de si
Mais donas do mundo
E dos homens também
Tanto mais quando se sabe que por que por trás de tanta raiva, de tanta fúria,
Há sempre um encanto de mulher
Que apenas espera receber exatamente o que ela quer
E merece:

Todo o carinho,
Toda a atenção,
E todo o amor que existe!"

Augusto Branco

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Mistério

O que penso eu do mundo? 
Sei lá o que penso do mundo! 
Se eu adoecesse pensaria nisso. 

Que ideia tenho eu das cousas? 
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos? 
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma 
E sobre a criação do Mundo? 

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos 
E não pensar. É correr as cortinas 
Da minha janela (mas ela não tem cortinas). 

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério! 
O único mistério é haver quem pense no mistério. 
Quem está ao sol e fecha os olhos, 
Começa a não saber o que é o sol 
E a pensar muitas cousas cheias de calor. 
Mas abre os olhos e vê o sol, 
E já não pode pensar em nada, 
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos 
De todos os filósofos e de todos os poetas. 
A luz do sol não sabe o que faz 
E por isso não erra e é comum e boa. 
...
O único sentido íntimo das cousas 
É elas não terem sentido íntimo nenhum. 
...
Se Deus é as flores e as árvores 
E os montes e sol e o luar, 
Então acredito nele, 
Então acredito nele a toda a hora, 
E a minha vida é toda uma oração e uma missa, 
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. 

Mas se Deus é as árvores e as flores 
E os montes e o luar e o sol, 
Para que lhe chamo eu Deus? 
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar; 
Porque, se ele se fez, para eu o ver, 
Sol e luar e flores e árvores e montes, 
Se ele me aparece como sendo árvores e montes 
E luar e sol e flores, 
É que ele quer que eu o conheça 
Como árvores e montes e flores e luar e sol. 

E por isso eu obedeço-lhe, 
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?). 
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente, 
Como quem abre os olhos e vê, 
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes, 
E amo-o sem pensar nele, 
E penso-o vendo e ouvindo, 
E ando com ele a toda a hora. 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema V" 


Pontes

Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, excepto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!

Nietzsche


Os Livros

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.

Paulo Leminsky


Espírito

Aquilo a que chamamos espírito parece-me muito mais material 
do que aquilo a que chamamos matéria; 
sinto a minha alma mais manifesta e 

mais sensível do que o meu corpo.
Miguel Unamuno


Abrigo

“Não é a casa que nos abriga, mas nós que abrigamos a casa, pois é a ternura que sustenta o tecto.”
Mia Couto


Alegria...Tristeza

Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezinha de papel fino.

Millôr Fernandes


Não Quero o Primeiro Beijo

Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca.


Mia Couto, in Tradutor de Chuvas

A Árvore

Chegaste
com a tua tesoura de jardineiro
e começaste a cortar:
umas folhas aqui e ali
uns ramos
que não doeram…
Eu estava desprevenida
quando arrancaste a raiz.

Yvette Centeno


segunda-feira, 20 de maio de 2013

Canção das Mulheres

Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso fazer tolices tantas vezes.
Que se estou somente cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de volta logo à sua vida, não porque lá está a sua verdade mas talvez seu medo ou sua culpa.
Que se começo a chorar sem motivo depois de um dia daqueles, o outro não desconfie logo que é culpa dele, ou que não o amo mais.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo "Olha que estou tendo muita paciência com você!"
Que se me entusiasmo por alguma coisa o outro não a diminua, nem me chame de ingênua, nem queira fechar essa porta necessária que se abre para mim, por mais tola que lhe pareça.
Que quando sem querer eu diga uma coisa inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que quando levanto de madrugada e ando pela casa, o outro não venha logo atrás de mim reclamando: "Mas que chateação essa sua mania, volta pra cama!"
Que se eu peço um segundo drinque no restaurante o outro não comente logo: "Pôxa, mais um?"
Que se eu eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compustura, o outro assim me ache linda e me admire.
Que o outro - filho, amigo, amante, marido - não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.

Lya Luft

 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

O Segredo do Casamento


 Meus amigos separados não cansam de me
perguntar como eu consegui ficar casado trinta anos com a mesma mulher. 

As mulheres, sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa 
como ela consegue ficar casada com o mesmo homem, 
mas como ela consegue ficar casada comigo.
Os jovens é que fazem as perguntas certas, ou seja, 
querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto tempo.
Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. 
Não sou um especialista do ramo, como todos sabem, mas, dito isso, 
minha resposta é mais ou menos a que segue.
Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. 
Ninguém agüenta conviver com a mesma pessoa por uma eternidade. 
Eu, na realidade, já estou em meu terceiro casamento 
- a única diferença é que me casei três vezes com a mesma mulher. 
Minha esposa, se não me engano, está em seu quinto, 
porque ela pensou em pegar as malas mais vezes do que eu.
O segredo do casamento não é a harmonia eterna. 
Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a solução é ponderar, 
se acalmar e partir de novo com a mesma mulher. 
O segredo no fundo, é renovar o casamento, e não procurar um casamento novo. 



Isso exige alguns cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal. 
De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. 
De tempos em tempos, é preciso voltar a namorar, voltar a cortejar,
 voltar a se vender, seduzir e ser seduzido.
Há quanto tempo vocês não saem para dançar? 
Há quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo 
como se seu par fosse um pretendente em potencial? 
Há quanto tempo não fazem uma lua de mel, 
sem os filhos eternamente brigando para ter a sua irrestrita atenção?
Sem falar nos inúmeros quilos que se acrescentaram a você, depois do casamento. 
Mulher e marido que se separam perdem 10 quilos num único mês, 
por que vocês não podem conseguir o mesmo? 
Faça de conta que você está de caso novo. 
Se fosse um casamento novo, 
você certamente passaria a freqüentar lugares desconhecidos,
 mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa, 
os discos, o corte de cabelo e a maquiagem. 
Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu cônjuge.
Vamos ser honestos: ninguém agüenta a mesma mulher ou marido por trinta anos 
com a mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. 
Muitas vezes não é sua esposa que está ficando chata e mofada, 
são os amigos dela (e talvez os seus), são seus próprios móveis com a mesma desbotada decoração. 
Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, 
que é justamente um dos prazeres da separação. 
Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, 
um novo bairro, um novo círculo de amigos.
Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. 
Basta mudar de lugares e interesses e não se deixar acomodar. 
Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam 
porque o casal se recusa a pagar esses pequenos custos necessários 
para renovar um casamento. 
Mas, se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, 
 novos móveis, novas roupas, 
e você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.
Não existe essa tal "estabilidade do casamento", 
nem ela deveria ser almejada. 
O mundo muda, e você também, seu marido, sua esposa, 
seu bairro e seus amigos. 
A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma "relação estável", 
mas saber mudar junto. 
Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas 
que jamais teria pensando fazer no início do casamento. 
Você faz isso constantemente no trabalho, 
por que não fazer na própria família? 
É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo.
Portanto, descubra o novo homem ou a nova mulher que vive ao seu lado, 
em vez de sair por aí tentando descobrir um novo e interessante par. 
Tenho certeza de que seus filhos os respeitarão pela decisão 
de se manterem juntos e aprenderão a importante lição 
de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. 
Brigas e arranca-rabos sempre ocorrerão: 
por isso, de vez em quando é necessário casar-se de novo,
 mas tente fazê-lo sempre com o mesmo par.



 Stephen Kanitz


sábado, 20 de outubro de 2012

Simplesmente Chegar

As pessoas falam das outras, com mágoa
ao invés de matarem essa sede com água

àgua do olhar dos meninos, filhos, sobrinhos, afilhados.

Estamos quase ilhados e dando maus exemplos

Deixando de fazer amigos e fazendo tormentos.

Vivemos um tenso momento onde o sorriso

tem que valer mais que a fúria

pois o coração é quem tudo segura e

muitas vezes se desfaz em dor

Ele nasceu para o amor

ele não tem tempo, nem idade

nasceu para felicidade

e quem não quiser assim,

não pode olhar para mim

pois estou longe da inveja

quero aprender mais e não competir

quero o que sempre vivi

ter mais amigos e caminhar pelos trilhos

chegar sempre onde está o amor

seja a lonjura que for

quero simplesmente chegar.

Paulinho Pedra Azul
 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Piano Bar

O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde e eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor

O que você não pode, eu não vou te pedir

O que você não quer, eu não quero insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar
Às vezes fica longe e impossivel de encontrar
Mas quando o neon é bom
Toda noite é noite de luar

No táxi que me trouxe até aqui
Bob Marley me dava razão
As últimas do esporte , hora certa
Crime e Religião

Na verdade nada
É uma palavra esperando tradução

Toda vez que falta luz
Toda vez que algo nos falta (alguém que parte e não volta)
O invisível nos salta aos olhos
Um salto no escuro da piscina

O fogo ilumina muito, por muito pouco tempo
Por muito pouco tempo, em muito pouco tempo
O fogo apaga tudo, tudo um dia vira luz
Toda vez que falta luz, o invisível nos salta aos olhos

Ontem à noite, eu conheci uma guria
Já era tarde, era quase dia
Era o princípio num precipício
Era o meu corpo que caía

Ontem à noite, a noite tava fria
Tudo queimava, nada aquecia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão

Ontem à noite, eu conheci uma guria, que eu já conhecia
De outros carnavais, com outras fantasias
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão

No iníco era um precipício
Um corpo que caía
Depois virou um vício, foi tão difícil
Acordar no outro dia

Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão
Parecia que era minha


Engenheiros do Hawaii 


 

quinta-feira, 22 de março de 2012

Água

Água!
Tu não tens gosto, nem cor nem aroma.
Não podemos definir-te,
Saboreamos-te sem te conhecermos.
Tu não és necessária à vida: tu és a própria vida!
Tu penetra-nos dum prazer
Que não se explica pelos sentidos.
Contigo reentram em nós os poderes
Aos quais tínhamos renunciado…
Por tua graça,
Abrem –se em nós todas as fontes corrompidas do nosso coração
Tu és a maior riqueza que existe no mundo,
E és também a mais delicada,
Tu, tão pura no ventre da terra.
Pode-se morrer a dois passos dum lago de água salgada.
Pode-se morrer de dois litros de orvalho que alguns sais retêm em suspensão.
Tu não aceitas mistura alguma,
Tu não suportas alteração alguma,
Tu és uma desconfiada divindade…
Mas tu espalhas em nós
Uma felicidade infinitamente simples.


Extraído do livro Terra dos Homens, de Antoine de Saint-Exupéry
  

terça-feira, 20 de março de 2012

Palavras que Machucam


Dói-me o peito em carne viva.
O que poderia ser mais doído
Do que alguém querido te ferir,
com palavras que entram pelo ouvido,
penetram no cérebro, na alma,
vão consumindo ossos, músculos, nervos,
carne e pele, como um câncer exógeno,
um ácido que corrói alegria e simpatia.
Imagino um pássaro que pousou em sua janela,
cantou puro e foi alvejado e morto.
Uma borboleta que pousou em sua mão,
bela e confiante, e por elas foi esmagada.
Por onde andava teu coração nesta hora?
Imaginou-se seguro para machucar,
atingir a auto-estima e a felicidade?
Por que achou que seria bálsamo para as feridas
existentes em seu vituperado interior?
Conhece a mágoa mas não a sensibilidade.
E depois tenta convencer que nada fizeste...
Se não posso curar-te com meu carinho
Deixe o pássaro ir.
Deixe a borboleta voar.
Deixe Deus entrar.
Pra você sair dessa carapaça desumana...


Elisa Maria Gasparini