terça-feira, 29 de novembro de 2011

Em Novembro

Nostálgico este dia,
Neste mês tão peculiar como é Novembro.
Tudo se clarifica e refina;
As árvores despem-se de vez numa ousadia que desengana as cores-frias-de-amarelo-fogo que revestem o Outono.
Em Novembro,
A estação atinge a sua plenitude.
A chuva perde a sua timidez;
O frio engalanado lidera manhãs, tarde e noites;
E o amigo vento alia-se de bom grado, para juntos trazerem o mau tempo em pessoa.
Novembro,
É o mês que proporciona a autenticidade do que na Natureza é per si genuíno.
As noites de Novembro tornam especiais os primeiros serões à lareira e exultam o estado de reflexão.
É altura de nos rendermos e procurarmos "aquele" cachecol tão quentinho que relembra o sabor único das castanhas assadas...
Em Novembro,
O nevoeiro matinal envolve de mistério a aurora, e o Sol seu prisioneiro, tenta em vão brilhar.
Em Novembro,
A nostalgia preenche os dias e abraça as noites de uma forma única e especial...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Não Sei Quantas Almas Tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não sou eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa